Crítica: Guerra Mundial Z


A escola de Romero encontra em Guerra Mundial Z (World War Z, 2013) a disparidade entre o inoportuno e o recorde. Pontuando-o inicialmente pelo lado positivo, este filme é quase um cálculo matemático, investindo no um mais um pelo medo de errar sua conta. Ao menos é o que parece. Isso porque a inconstância clara de vários pontos do filme não se deixa imaginá-lo claro em seu objetivo. Classificando-o como um filme de terror - algo que podemos até contestar em grande parte do filme - esta obra é a produção máxima deste gênero que sempre conta com números modestos de produção e bilheteria.

A linha de frente imposta obviamente pela presença de Brad Pitt é, sem sombra de dúvidas, a perda deste medo em arriscar altas cifras num filme de zumbi, subgênero que não carrega em seus requisitos uma produção milionária. Os extremos entre A Noite Dos Mortos Vivos (Night of the Living Dead, 1968) e Guerra Mundial Z são a base para se explicar o que aconteceu neste meio tempo. Um ponto claramente certeiro nessa obra é a presença de Pitt, hoje o ator mais coringa em atividade no cinema, respeitado pelas escolhas de sua carreira e o norte que deu a ela, obviamente construída com excelentes interpretações.

O apocalipse proposto no filme é claro e urgente, não se perde muito tempo para construir história ou personagens, e assim o espectador sabe apenas que existe uma família liderada por um pai que já foi fodão em alguma atividade investigativa e que num dia qualquer se vê em meio ao caos da cidade e posteriormente do mundo. O personagem de Pitt emerge como salvador, um cidadão comum porém com um passado que o permite fazer de si um exército de um só homem.

Aí, de duas, uma: ou o carisma e construção deste nosso novo heroi são bem elaboradas ao ponto de que ele consiga realmente TER um drama evolutivo a narrar, ou retira-se este zoom inapropriado e foca-se no todo, afinal de contas é um apocalipse, e há muito mais gente se ferrando pra querer que prestemos atenção numa família american-dream da vida. Ou, como exceção a regra, o protagonista na verdade é Brad Pitt e foda-se a porra toda, pois o que tá valendo é ver o ator salvando-se como uma desculpa meia-boca com uns zumbis percebidos mais em áudio do que em vídeo.

Então, fazendo algumas continhas básicas na mão, a pergunta que fica é pra quê o filme veio, uma vez que as conclusões do público sobre a obra ficam bem divididas, e onde pode-se encontrar fundamento em todas estas visões que não deixarão de ser versões verdadeiras sobre algo que mostrou-se ou indefinido em seu objetivo ou, com sorte maior, muito competente em sua montagem multifacetada.

Na busca por essa conclusão, e somente por já ter que realizar esta tarefa, é possível imaginar que este é um filme equilibradamente regular, com alguns elementos básicos que chamam atenção e, equivocadamente de modo automático, parecem impulsioná-lo simplesmente por uma questão de ordem quantitativa, e não qualitativa.



É claro que ao que tange a produção, com toda a beleza visual alternada em imagens de planos gigantescos para a narrativa de um fim-de-mundo e zumbis que conseguem deixar o gore para se apresentar em raras aparições sem provocar asco ou repugnância, formam a base para conquistar algo além de seu público e assim atingir maior popularidade. Isso funcionou, como é possível perceber, e de fato esta é uma competência da obra que deixa de falar para uma fatia de um público que, comparado aos outros gêneros, já é bem menor.

Entre essa instabilidade de fatores válidos e outros nem tanto, há a história que ele pretende narrar. Os zumbis estão em alta, no estrelato de uma figura que poderia-se jamais imaginar neste status, num subgênero que recentemente descobriu-se com conteúdo e força para narrar mais que duas horas, como é a série The Walking Dead. Seguindo a jornada dispensável que é muito mais acompanhar Brad Pitt do que na verdade seu personagem, há elementos rasos de narrativa que não contribuem para uma espantosidade positiva do espectador. O apocalipse salda-se em uma correria com fôlego de maratonas, a família-centro não concentra nenhuma construção de apelo a si, o que em vários casos pode nos deixar questionar por qual motivo na verdade estamos torcendo por aqueles que nem sabemos quem são.

Não que as explicações políticas e posteriores sobre a formação da personagem de Garry Lane não tenham validade, porém elas não parecem contribuir para a conquista do espectador no direcionamento de sua torcida. Enfim, é como se o filme partisse de alguns pontos já pré-entendidos: este é um filme de zumbi, eles são legais porém maus, e qualquer personagem que não queira comer cérebros serão os seus escolhidos para ganhar esta batalha apocalíptica.

A distância de um zumbi para a vida real é muito maior do que os demais personagens do cinema, talvez por esta questão não precisemos nos apegar em modo de autodefesa para torcer por nossos similares em tela. Haveria, sim, com a devida construção da história, uma grande possibilidade para entender de modo mais profundo os motivos desta situação, mais do que uma epidemia que surgiu e alastrou-se em proporção mundial.



Definitivamente o direcionamento dado ao personagem principal não agrada, e sobretudo à estas questões levantadas, o fato de que Rambo já foi uma saída genial e muito bem explicada para se fazer este exército de um homem só. A distância destes personagens é gigantesca, e nem sei se aplico com justiça esta comparação.

Guerra Mundial Z em muitos momentos é um filme de zumbi sem zumbi, e em sentido contrário à lógica, esta é uma característica que joga muito a favor de qualquer obra, esconder o fator maior da história e ainda caracterizá-la de mesmo modo exige equilíbrio forte para não transformar expectativa em frustração.

Em tons de condução, fica curioso a diferença entre o início e fim deste filme, iniciando a toda velocidade e sem muitas explicações, dando à ação o tom de sua condução inicial e ao suspense a característica de um final de filme até certo ponto surpreendente do ponto-de-vista de seu ritmo. Entre estes momentos, por questões de envolvimento e aproximação, nos parece que a obra termina muito melhor do que começa, e embora interessante não contribui para reajustar ou justificar suas falhas anteriores.


 

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