Crítica: Um Novo Despertar


Tal qual Gregor Samsa se depara ao acordar com o fato de não ser mais o que foi quando dormiu, Walter Black (Mel Gibson) percebe uma mudança extraordinária ao despertar.

Mandado para fora de casa por sua mulher não por conta de uma obstinação da parte dela, mas por completa inércia depressiva da parte dele, estado que cada vez mais afetava os filhos do casal e colocava toda a família numa espiral decadente.

Sem muito reagir ele acata a decisão da esposa e num quarto de hotel com um pouco de bebida e um filme japonês, Black é impulsionado a agir contra si mesmo, para finalizar o que havia começado muito tempo atrás e acabar com sua vida.

Tentativa frustrada pelo Castor, que será o arquiteto e construtor de Black para o caminho da recuperação de laços perdidos e objetivos desconexos. O roedor é o alter ego do protagonista, que sabe exatamente os passos a serem dados para que a normalidade seja estabelecida, a frustração alheia seja acalmada e os frutos dessa nova condição sejam colhidos.

E por algum tempo todos são convencidos pelo Castor de que um fantoche pode ser mesmo a solução, de que as palavras que há tanto se desejava estavam ali, no corpo da pessoa que devia pronunciá-las e o resto era um detalhe passageiro.

Essa possibilidade é desmentida, o Castor anulou Black para que ele não pudesse derrubar a sua construção, ele arquitetou um caminho que não poderia ser traçado por seu motor humano.

O Castor é totalitário e persuasivo, quando acuado ele repreende a todos e principalmente a Walter, que se torna ainda mais inerte com relação a si mesmo e aos outros.



Um Novo Despertar (The Beaver, 2011) expõe Gibson a um papel complexo e o ator corresponde a altura do desafio, a história é bem narrada, mesmo que conte com algumas simplificações, as relações familiares são superficialmente abordadas para dar espaço ao Castor e seu operário, o filme constrói muito bem as relações entre o indivíduo e seu alter ego peludo, deixando os estereótipos comuns tomarem parte nos papéis dos filhos e da mulher.

Contudo, The Beaver é um filme que vale a pena, é simples na narrativa e excepcional no trato com seu principal elemento, nisso Gibson e Jodie Foster (diretora) merecem grande mérito.





 

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