Crítica: Stake Land - Anoitecer Violento



Em meu texto sobre os 100 melhores filmes de vampiros da história, fechei dizendo que acreditava que o gênero ainda tinha muito a oferecer. E não estava sendo demagogo. Apesar do desgaste sofrido nos últimos anos e da exposição ao ridículo na série Crepúsculo, penso que há muitos terrenos ainda não explorados por esse subgênero. E não estava errado.

Eis que chega em minhas mãos Stake Land (2010), um filme que deve agradar a todos os amantes de filmes de vampiros. A premissa é ótima, porém pouco explorada até hoje, pois enquanto filmes com zumbis quase sempre abordam a questão da epidemia, os com vampiros evitam o mote. Quase sempre vampiros são uma classe que vive nas sombras, em pequenos grupos e procura ocultar sua existência da humanidade. Mas não em Stake Land.

Aqui a história começa nos apresentando a um mundo em que tudo mudou. Os sanguessugas se revelaram à humanidade e resolveram fazer o que predadores fazem: caçar. E assim, mais da metade dos EUA está completamente tomada por eles. É aqui que encontramos Martin, um garoto que viu seus pais e seu irmãozinho ainda bebê serem assassinados, mas foi salvo pelo misterioso Mister, um homem durão, porém justo, que resolve treiná-lo para ser um caçador. Pode parecer clichê, talvez até seja, mas o roteiro traça nuances pouco explorados e de formas inusitadas.

Por exemplo, encontramos os tradicionais focos de resistência; cidadezinhas que tentam levar uma vida comum a despeito do drama que as cerca, porém não há nada de idílico ou bucólico nelas. Vemos prostituição, pessoas alquebradas e desiludidas, a volta do escambo e uma crescente preocupação com duas coisas: os vampiros e a Irmandade.

O que é a Irmandade? Um problema pior que os vampiros. Em um mundo sem governo e completamente descentralizado, fanáticos religiosos formaram um grupo que tomou o sul dos EUA e elimina a todos que não fazem parte de seu meio. Vemos estupros e outras maldades, como prender um homem negro nas matas para ser devorado pelos vampiros apenas por ele ser, bem, negro.

As cenas com a Irmandade são boas e responsáveis por grande parte da tensão, porém sempre que os vampiros aparecem, o bicho pega. Pálidos, com a pele acinzentada, lábios ligeiramente deformados e caninos salientes, são seres sem inteligência, movidos apenas por uma coisa: o instinto de matar. Nada de câmera lenta, sangue em CGI ou kung fu (Hollywood está começando a perceber que isso já deu o que tinha que dar), apenas brigas cruas, perseguições, estacas e nenhuma concessão.

Acompanhamos a trajetória da dupla de protagonistas rumo ao Novo Éden (na verdade o Canadá), um lugar frio, para onde os vampiros evitam ir. Lá é onde a humanidade está sendo reconstruída. Ao longo do caminho, junta-se ao grupo um freira, um ex-fuzileiro e uma adolescente grávida – todos heróis improváveis, apenas pelo fato que ninguém é herói em Stake Land. As pessoas só querem sobreviver. Como há de se esperar, poucos conseguem.

O filme é o terceiro filme do diretor Jim Mickle, anteriormente ele havia feito o curta The Underdogs e o fraquinho Mulberry Street – Infecção em Nova York , porém vinha de uma boa experiência como operador de câmera, experiência essa que o ajudou. As tomadas em Stake Land são ótimas. Não temos os irritantes cortes rápidos e alucinantes que viraram moda no cinema moderno, e que não permitem o expectador de ver coisa alguma. Mickle nos faz de fato “ver” a cena acontecendo, e como sua maquiagem é bem feita e o sangue convincente, ele não precisa ficar pulando de câmera para câmera. Também nada de sustos apoiados em trilha sonora. Stake Land não prega sustos no expectador, mas o permite ser envolvido pela história e torna aquele mundo impossível em uma imagem crível.


As atuações são ótimas. O jovem Connor Paolo segura a onda no papel central de Martin. Ele tem um bom carisma e não é daqueles adolescentes chatos que você tem vontade de esganar. O cara entende o mundo que vive e sabe quais são as regras (o que é óbvio, qualquer pessoa que não entendesse já teria virado picadinho). O caçador Mister é interpretado por Nick Damici, e a freira por Kerry McGillis, o que aliás, é de causar espanto a todos que cresceram assistindo Top Gun e foram apaixonados por ela em sua juventude. A mulher está muito velha.

Bem, no frigir dos ovos, Stake Land é o filme que o conceito de vampiros dominando o mundo merece? Não, ainda não. Ele não decepciona, mas não chega a ser grandioso. Porém é um bom passo nessa direção. Fica a dica.



 

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