Crítica: Picnic na Montanha Misteriosa


Três garotas desaparecem repentinamente quando passeiam na Montanha Misteriosa. É realmente difícil comprar um filme por esta sinopse. Muitas vezes, o que se sobressai como qualidade em uma obra é simplesmente a forma como é contada. É fácil comprar uma ideia quando ela preenche e satisfaz ao interesse que temos em ver algo que se identifique com outras obras que já apreciamos. Talvez não seja sempre preciso elaborar roteiros infinitamente bem estudados, bem bolados e tramados para um final capaz de deixar o espectador boquiaberto. Em suma, vale a magia, a vivacidade e a transparência ocorrida no decorrer de sua abordagem central sobre a história em si; deve-se, sobretudo, ser cativante.

Esta não é, deixa-se claro, aquela obra a ser idolatrada, apaixonantemente capaz de fazer-nos criar uma identificação mais profunda, um elo, um carinho especial, que seja. Porém, antes de mais nada, é interessante esclarecer algo sobre o próprio título do filme. Picnic na Montanha Misteriosa é o título mais inocente que se poderia criar. Equivocado, ainda que condiga com a história. Enfim, procede, mas não vende. Nessa ocasião, mais valia optar por "A Montanha", ou algo assim. Enfim, basta.

Picnic na Montanha Misteriosa (Picnic at Hanging Rock, 1975) é um dos trabalhos iniciais da carreira do grande diretor Peter Weir, responsável pelo drama de O Show de Truman, (The Truman Show, 1998) e de Sociedade dos Poetas Mortos (Dead Poets Society, 1989), pela aventura de Gallipoli (Gallipoli, 1981) e pelo investigativo A Testemunha (Witness, 1985) e, embora seja um trabalho menos apreciado, já mostrava indícios do que poderia propor ao cinema.

O longa conta exclusivamente com um ar de mistério contínuo durante praticamente todo o longa. Ele tenta sustentar-se nessa única ferramenta para prender justamente o espectador para o desfecho final. O filme mostra-se invariavelmente consciente do que deseja, e, embora possa não agradar à todos, ao menos não o trai propondo e prometendo algo que ninguém verá. Dentre aquilo que pode-se destacar como qualidade na obra, a lentidão por vezes exagerada e monótona mostra que o interesse é realmente contar de forma branda e poética o mistério do desaparecimento de três jovens ao visitarem a montanha.



O filme se passa no dia de São Valentim, no ano de 1900, na Austrália Meridional, e baseia-se numa história real. Conta-se a história de um grupo de dezoito alunas de um colégio victoriano que são levadas para uma excurssão na tal montanha Hanging Rock. Lá, quatro das meninas decidem investigar a montanha até seu topo, onde três desaparecem. Uma, portanto, retorna para contar como acontecera o fato. Este desaparecimento é apresentado sem uma explicação concreta, é dúbio e interpretativo. Começam as hipóteses, a levantar-se possibilidades para entender o fato. Com um pouco ar de suspense e mostrando-se um tanto thriller, o mistério se estabelece. Entre idas e vindas, as garotas começam a resurgir, uma a uma, de maneira não esperada. Seria este um filme para se apreciar (talvez unicamente apreciar) o decorrer da história, já que seu final, embora justo por ser baseado em um fato verídico, não é digno dos melhores filmes do diretor. É justo, sim, mas não resolve.

A destacar-se, ainda, a esquisita (esquisita, não ruim) música permanente nas cenas de mistério. Ela até que cai bem com o contexto, com o clima e principalmente com o tempo e o local em que se passa, mas é digna das musiquinhas de centro da cidade. Entendamos como não-apropriada. Porém, se o efeito sonoro não dá tanta força para manter o clima, as imagens compensam facilmente, já que durante as lentas cenas e diálogos nos deixam proporcionar a beleza natural do local e da própria filmagem escolhida. Para defini-lo, talvez possamos dizer que é uma boa, lenta e investigativa subida a um monte chinês, prestes a encontrar um sábio monge que nos fará encontrar nosso próprio eu.




 

©Copyright 2010-2013 Cinemarco Críticas