Crítica: A Mosca



Há, pelo menos, quatro gêneros influentes na obra A Mosca (The Fly, 1986): Ficção, terror-trash-escancarado, drama e, acredite, um romance. O que pode parecer, à primeira vista, um filme desinteressante de assistir, pode revelar-se na condução de sua história. Estas mesclas de gêneros denotam a ótima capacidade do diretor David Cronenberg (Senhores do Crime, Marcas da Violência, O Vidente) dirigir a trama de maneira singular.

Inicialmente, narra-se a vida de um cientista que, dentre outras invenções, acredita que está diante de sua revolucionária máquina, sempre desejada pelos humanos, desafiadora neste aspecto. Seth Brundle (Jeff Goldblum) acabara de criar a Telepod, um teletransporte. A aproximação do cientista com a jornalista Veronica Quaife (Geena Davis), faz estabelecer o início de um estranho relacionamento. Neste ponto, inicia-se um romance discreto, porém existente. Retratando a exclusão ao qual Seth sofre da sociedade, ele mora num grande e sombrio prédio, sem vizinhos, grandes corredores e totalmente abandonado. Na sua própria casa ele cria o aparelho, e mostra à Veronica a sua invenção. Porém, o que parecia ser uma grande descoberta - de fato era -, resultaria em algo nada esperado.

Após experimentar sua máquina com objetos sem vida e conseguir também teletransportar um macaco, ele decide transportar a si próprio. Consegue, mas algo dá errado. Neste processo, sua genética mistura-se com uma mosca que estava dentro do aparelho, transformando-o no próprio animal.

O lento processo de transformação do cientista no animal é o ápice do filme. Prendendo o telespectador à história, ele revela a torcida pelo monstro, diante de sua simpatia já conquistada. É uma mistura de pena, angústia, apreensão e torcida. Mesmo com toda a feiúra a que ele se transforma, é inevitável não demonstrar tristeza na situação particular do personagem e na relação entre ele e a jornalista. A cada passo de sua transformação, o afastamento dos dois fica maior. Ela busca ajuda, em vão. As visitas mostram cada vez menos um homem e mais um animal. Porém, a abordagem inicial faz o personagem ter carisma, sabe-se, sempre, que por trás de sua nova pele há muito sentimento, muita vontade de manter aquela relação, de viver, de dar continuidade àquela descoberta que o faria refém de si próprio. Com um final justo, o longa finaliza com cenas fortes emocional e visualmente.



Além de um bom roteiro, capaz de unir tantos gêneros para uma história não muito complicada, o que marca o longa é a maneira como ele é contado e filmado. Não seria das tarefas mais fáceis transformar um humano num animal, ainda mais uma mosca. Com cenas propositalmente nojentas e trash no período de transformação (com direito à unhas sendo arrancadas, vômitos verdes e dentes caindo), este pode ser considerado um dos maiores pontos-forte do longa. A excelente maquiagem do personagem (ganhador do Oscar neste quesito), com detalhes profundos são a mostra deste também grande trabalho visual. Neste ponto, o filme conta com várias cenas memoráveis, capazes de fazer lembrá-las muito tempo depois de assistidas.

Dessa forma, o filme destacou-se, desde então, como uma obra de sucesso, dando ao diretor grande prestígio e marcando seu nome nos clássicos do gênero, podendo ser lembrado posteriormente por toda a ousadia e diferenciação a que propôs neste longa, que, para alguns, é considerado sua obra-prima.




 

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