Crítica: A Vida dos Outros


Pouco se sabe, ainda no mundo atual, o que se passou nos países socialistas que faziam parte da cortina de ferro – aquele clube fechado da Europa Oriental influenciado pela União Soviética no pós-guerra. Com a vitória do capitalismo, algumas histórias puderam ser reveladas ao público, como os abusos que os governos socialistas cometiam para se manterem em pé, bem como a rigidez e a forte censura, influência inquestionável do Stalinismo e do comunismo proveniente de Moscou.

Em A Vida dos Outros (Das Leben der Anderen, 2006), o espectador mergulha na Alemanha Oriental em seus últimos anos, quando a Stasi – polícia secreta local – controlava com punhos de ferro qualquer tipo de movimento pró-Alemanha Ocidental. Nesse contexto, Weisler, um capitão da Stasi e perito em interrogatórios, é incumbido de espionar a vida de um escritor de teatro famoso, com o intuito de descobrir a possibilidade de propaganda ocidental em seus textos. Ele, de caráter claramente inflexível e leal ao seu governo, começa então a monitorar o apartamento onde o escritor e sua amada vivem, por meio de escutas. Contudo, o envolvimento de Wiesler com a vida do escritor o desilude a tal ponto de desacreditar no sistema com o qual sempre se identificou, bem como se dar conta de que a vida do escritor era muito mais pura e verdadeira se comparada à sua própria vida, que basicamente se resumia a cuidar da vida dos outros.

O filme é por si só uma obra prima inquestionável: atuação impecável, personagens extremamente elaboradas, enredo primoroso, contexto exato. Aliás, nunca entendi a falta de abordagem deste último nas telonas – a queda do muro de Berlim sempre me pareceu um prato cheio para o cinema, mas tem sido muito pouco explorada. Não me lembro de cabeça de nenhum filme que trate da imigração clandestina em massa que ocorreu no sentido leste-oeste nos períodos da Guerra Fria. A propósito, segundo o próprio filme, até mesmo o sol já se rendeu e foi brilhar no oeste.


 

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