Crítica: O Banheiro do Papa


Há certos filmes que convencem pela sua simplicidade. A falta de criatividade (principalmente de Hollywood) em criar histórias verdadeiramente originais ou retratar com boa qualidade um fato da sociedade, tem feito abrir espaço para o cinema alternativo, em suas diversas variações. Na era do 3D, dos investimentos milionários e grande investimento de mídia para divulgação das obras, felizmente vê-se a proliferação de algumas boas obras pelo boca-a-boca.

De fato há espaço para o cinema independente, alicerçado somente numa boa ideia, bom roteiro, vontade e uma câmera na mão, claro que serão contadas histórias que encaixem-se neste orçamento, mas estas terão sua possibilidade de tornar-se realmente boas obras por justamente exigirem pouco investimento. Num exemplo já clássico, cita-se A Bruxa de Blair (The Blair Witch Project), filme de 1999 orçado em "míseros" 11 mil dólares.

O Banheiro do Papa (El Baño del Papa, 2007) é, também, um destes bons exemplos. Dirigido por César Charlone e Henrique Fernández, e produzido pelo brasileiro Fernando Meirelles (Cidade de Deus, O Ensaio Sobre a Cegueira) o longa busca retratar uma história verídica do final dos anos 80, onde, na pequena cidade de Melo, no Uruguai, especulava-se a chegada do então Papa João Paulo II à localidade. Em meio à miséria, os moradores da cidade vêem uma alternativa para melhorar suas condições de vida. Beto (César Troncoso), é o pilar da história. Com uma vida sofrida, ele sustenta sua esposa e filha das viagens que faz de bicicleta ao Brasil para comprar alimentos para os armazéns de sua cidade. Ciente de que sua situação não lhe renderá uma melhor condição de vida para sua família a curto prazo, Beto vê na vinda do Papa uma possibilidade inovadora de aumentar seu capital. Imagina ele que todas as pessoas, das quais a Televisão noticia a chegada à cidade, deverão alimentar-se, e assim, decide criar um banheiro, cobrando por sua utilização.



O filme retrata, na verdade, uma condição de vida muito percebida em regiões e países onde o desenvolvimento social e político não mostram-se presentes. Mais do que um evento religioso capaz de trazer a harmonia e paz à algumas pessoas que cultuam este pensamento, esta situação, às vezes, não é capaz de ser percebida por nenhuma mas milhares de pessoas que participam da manifestação, muito menos por quem a organiza. Beto corria o risco de ser preso com suas inúmeras viagens em contrabando de mercadorias, mas não podia manifestar a vontade que tinha de, em busca de sua melhor codição de vida, ajudar também aos demais.

Assim, o filme conta, de uma triste maneira, a frustrante tentativa de um cidadão em buscar algo melhor para si. Com filmagens verdadeiras retratando a simplicidade do povo local, o longa tenta mostrar sem nenhuma plasticidade e beleza aquilo que de fato nem o local e nem a história são. É o retrato de um problema social, que, assim como o Papa faz na cidade, vem e vai, percebe-se sua existência mas não se dá muita importância, e, assim, os cidadãos descobrem que nem aquele que considerava-se capaz de tirá-los de tal situação é, na verdade, tão capaz de tornar suas vidas tão melhores quanto eles mesmos.




 

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